quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Fases de uma viagem

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1. Decisão - Quando a fase de decisão nos compete, é um período de indecisão. “como assim, uma fase que nos compete?” A viagem poderá partir por desejo de outra pessoa, por exemplo, os nossos pais podem-nos apresentar um destino com um tipo de viagem associado. ou o nosso patrão propor-nos um outro local de trabalho. Contudo, também há a possibilidade de sermos nós a ter desejo/necessidade de viajar e a decisão do local e que tipo de viagem (um retiro para descanso, uma viagem de cultura, uma aventura, etc.) ser apenas nossa. Nesta altura, a decisão do local, em função do tipo de significado que atribuímos à viagem, é um momento de muita indecisão! É preciso escolher um local de objectivo e de permanência, contudo é importante que à volta desse local existam outras possibilidades de distracção. Faz parte ainda desta fase a escolha das datas de ausência.

2. Entusiasmo e sentimento de euforia - Após de decisão de datas e local/locais o sentimento de euforia toma conta de nós: há que fazer uma lista de coisas a levar, preparação de documentos, compra de bilhetes ou revisão do carro, procura de pontos de interesse, etc. Associo esta fase às vésperas de Natal, quando se prepara minuciosamente todos os detalhes da Noite de Ceia e Almoço de Natal, quando há uma vontade enorme que aquele dia chegue para termos a certeza que vai ser tudo perfeito.

3. Preparação – Há a fase em que achamos que temos tudo para fazer, mas esta fase é a fase em que há mesmo tudo para fazer: escolher roupa, não esquecer de um filme, um livro e musica, preparar os mapas, o carro (se for caso disso) e garantir que todos os documentos estão connosco. Apesar de não ser muito usado em viagens para fora do país, garantir que se leva o carregador de telemóvel (é normalmente o que me esqueço :)).

4. Despedida – Associado ao conceito de viagem está o conceito de ausência. Poderá só ser três dias ou uma semana, mas para os nossos entes queridos, que ficam a aguardar o nosso regresso e que estão habituados a verem-nos com frequência, a pequena viagem pode significar um não-regresso. É importante visitarmos aqueles de quem mais gostamos e que ficarão preocupados connosco para lhe darmos um beijinho. Durante esta fase vamos dizer várias vezes: “Não se preocupe! Está tudo bem preparado e não vai acontecer nada de mal! Eu telefono todos os dias!” Vamos prenuncia-lo tantas vezes que, ao fim, vamos pensar só para nós “será que vai correr tudo bem?”.

5. Viagem - a melhor parte! O novo ambiente, a novidade do local onde comemos, onde dormimos e as diferentes vistas criam uma sensação de ansiedade que poderá ser compensada pela positiva ou pela negativa. Acho que esta decisão depende das perspectivas que temos. O sucesso da viagem é determinado pelos percalços, pela companhia, pela envolvência e essencialmente pelo nosso espírito. O sentimento durante uma viagem pode ser de diferentes ordens e magnitudes.

6. Regresso – fase determinada por um silêncio e pela saudade. Podemos pensar que uma viagem de uma semana não cria saudade, mas cria! Imaginem-se a acampar durante uma semana, em que o banho implica uma deslocação a um local público e que o vestir de roupa é muitas vezes feito com o corpo húmido, que a colchão nem sempre é aquele que nós desejamos. A saudade do conforto da nossa casa, ao fim de uma semana, é enorme :). Quando a viagem é de um mês/ três meses, a saudade de comer peixe, bebermos um café a sério, de ouvirmos a nossa língua, de irmos ao supermercado e entendermos perfeitamente o conteúdo dos pacotes… “E da família não se tem saudade?” Tem! Só que os meios de comunicação hoje em dia vão conseguindo apaziguar um pouco essa saudade. Para aqueles que estão habituados a só estar com a família ao fim de semana, quando estamos ausentes do nosso país vários meses, o domingo é sem dúvida um dia sagrado, em que se fica com um vazio mesmo quando se consegue falar com a família.

7. Chegada - O regresso é um período de sentimentos controversos - queremos voltar mas ao mesmo tempo ainda ficou algo por visitar e ainda fazia falta mais umas horas de descanso, por outro lado, estamos mesmo com vontade de regressar à nossa aldeia, à nossa casa e dizer aos nossos entes queridos “correu tudo bem e tenho coisas muito giras para vos mostrar e contar”. A chegada é a sobreposição inicial deste último sentimento, contudo, ao fim de dois dias queremos ir de férias outra vez :).

8. Conhecimento – Após algum tempo, mesmo anos, há uma conversa, uma notícia ou uma situação na vida em que nos lembramos de alguma fase daquela viagem. Normalmente, as viagens que têm mais percalços são as que nos ensinam mais coisas e que nos ficam na memória. Recordo-me sempre do meu pai a dar com os caminhos de saída dos centros urbanos com precisão e rapidez. Sempre achei que aquilo seria um sexto sentido dele: a orientação em cidades novas. Contudo, ele recorda-se mais das vezes em que se enganou, em que ficou preso durante horas em trânsito ou que conduziu por estradas sem saída. Errou algumas vezes, o que permitiu aprender a conduzir noutros países. Quando conhecemos alguém de um país que já visitámos fica uma vontade de lhe ir contar que já lá tivemos e o que vivemos lá. É importante saber que não existe uma melhor forma de conhecer uma cidade ou um país. Se formos de avião, aterrarmos e hospedarmo-nos num hotel, vamos conhecer uma forma de vida daquela cidade; se formos de carro, não se conhece (normalmente) a gastronomia nem a vista aérea da cidade, mas vamos contactar com a dificuldade de conduzir e encontrar o caminho certo; se for em trabalho iremos contactar com o real modo de vida daquela população. Há uma certeza, quantas mais vezes lá formos, melhor o conhecemos. Assim sendo, diria que a melhor fase da viagem é o sentimento de retorno àquele país/cidade e a ânsia de conhecer outros locais.

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